Um olhar sobre a Aldeia Nova e a visão da Accedex para um Waku Kungo que inspira Angola
No coração da província do Cuanza Sul, cercada por colinas que respiram história e campos que sustentam vidas, ergue-se uma terra de coragem e esperança: Waku Kungo.
Para quem lá nasceu, como eu, Benedito Catumbela, o nome não é apenas geografia — é herança, é raiz, é promessa.
Cresci na Fazenda 47, a 37 quilómetros da cidade, onde o nascer do sol era um convite diário à luta. Não havia escola nem hospital por perto. Havia, sim, o som do vento nos milharais, as vozes das mães que acreditavam no amanhã e a força de um povo que, mesmo entre desafios, nunca desistiu de sonhar.
E é justamente dessa fé silenciosa que nasceu o Projeto Aldeia Nova, uma das experiências mais inspiradoras do nosso país — e talvez de toda a África.
Quando o sonho se torna alimento: a inspiração da Aldeia Nova
No início dos anos 2000, a região de Waku Kungo começou a ganhar um novo fôlego. Ali, o Projeto Aldeia Nova, concebido em parceria com o LR Group de Israel e o Governo de Angola, trouxe mais do que tecnologia e tratores. Trouxe dignidade.

A ideia era simples e grandiosa: unir famílias em aldeias agrícolas sustentáveis, com casas, escolas, clínicas, e sobretudo, acesso a conhecimento e ferramentas modernas para o cultivo e a pecuária.
Cada aldeia, com suas pequenas fazendas, tornava-se uma célula de produção e vida comunitária.
Não era apenas agricultura — era transformação social.
As famílias deixavam de ser dependentes de ajuda externa e passavam a gerar rendimento próprio. Os filhos cresciam vendo o valor do trabalho e do aprendizado.
Era um renascimento silencioso, que mostrava que o desenvolvimento é possível quando o povo é protagonista da sua própria história.
Hoje, olhando para trás, vemos que a Aldeia Nova não foi apenas um projeto — foi um marco de esperança. Uma prova viva de que o Waku Kungo tem vocação para ser um laboratório de futuro.
O novo capítulo: Waku Kungo, 50 anos depois
Cinquenta anos após a independência de Angola, Waku Kungo volta a chamar atenção, não apenas pelo que já fez, mas pelo que pode vir a ser.
O município carrega uma energia rara: a de quem conhece a dureza da terra, mas também a doçura de ver o que nela floresce. É essa alma que a Accedex – Centro de Excelência Integrada deseja celebrar e transformar em legado.
A proposta apresentada à Administração Municipal é clara:
transformar o Waku Kungo num símbolo de inovação e orgulho nacional, onde educação, cultura, economia e tecnologia caminham de mãos dadas — com as pessoas no centro de tudo.
Porque o verdadeiro desenvolvimento não é importado.
Ele nasce do chão, das histórias, da língua e da coragem do povo.
Educação: o primeiro passo de qualquer revolução
Nenhuma nação se ergue sem conhecimento.
Por isso, um dos pilares do programa “Angola 50 Anos: Raízes e Horizontes no Waku Kungo” será a educação.

A Accedex propõe formar 50 jovens em inglês prático voltado para o agronegócio, turismo e tecnologia — áreas que podem impulsionar o crescimento local.
Mas mais do que ensinar uma língua, a meta é despertar novas visões de mundo, estimular o pensamento crítico e abrir portas para o diálogo entre culturas.
A proposta inclui ainda um Laboratório de Memórias da Independência, para registrar as histórias orais dos anciãos, criando um arquivo vivo das vozes que ajudaram a construir Angola.
Porque um povo que esquece as suas raízes não pode planejar o futuro.
Economia e sustentabilidade: fortalecer quem já faz
O campo é a espinha dorsal de Waku Kungo.
Mas muitos produtores ainda enfrentam desafios de gestão, acesso a mercados e valorização dos seus produtos.
O programa Accedex Quintas pretende mapear e conectar produtores rurais locais, criando uma rede colaborativa que promova partilha de recursos, formação em empreendedorismo e inovação agrícola.
O objetivo é que o pequeno produtor deixe de ser invisível e passe a ser parte ativa da economia municipal.
Assim como na Aldeia Nova, o princípio é o mesmo:
ensinar a produzir, gerar rendimento e inspirar autonomia.
Cultura: o coração que bate com identidade
Nenhuma transformação é completa se o povo não se reconhece nela.
Por isso, a dimensão cultural será celebrada com o Festival “Vozes da Independência no Waku Kungo”, um espaço para música, poesia e narrativas em línguas nacionais, que recupera o orgulho de ser angolano.
A plataforma Prime-i-Era dará voz aos artistas locais, promovendo gravações colaborativas, oficinas de produção musical e a criação de um catálogo digital da nossa diversidade.
Waku Kungo tem talento, tem ritmo, tem alma.
É hora de mostrar isso ao mundo.
Tecnologia e inovação: o futuro é agora
Nenhum sonho floresce sem ferramentas modernas.
Por isso, a Accedex aposta em levar soluções digitais acessíveis às comunidades, com a criação do Waku Kungo Digital – Memória da Independência, uma plataforma online para mapear histórias, patrimônios e inovações locais.
E para estimular a juventude criadora, a Maratona de Inovação Rural reunirá estudantes e empreendedores em busca de soluções práticas para a agricultura e o ambiente.
O futuro da aldeia depende da coragem de quem experimenta.
Conclusão: Waku Kungo, onde tudo recomeça
Há terras que produzem milho, e há terras que produzem futuro.
Waku Kungo é uma dessas terras.
O Projeto Aldeia Nova mostrou ao país que o desenvolvimento sustentável é possível quando há visão e compromisso.
Hoje, a Accedex dá continuidade a esse legado — unindo educação, inovação e cultura numa só narrativa: a da transformação real e inclusiva.
Nos 50 anos da independência, Waku Kungo não quer apenas celebrar o passado.
Quer reacender a chama do que significa ser angolano:
um povo que planta, aprende, cria e sonha — de olhos firmes no horizonte.
“Celebrar 50 anos de liberdade é construir o futuro que os nossos heróis imaginaram.
E esse futuro começa aqui — no Waku Kungo.”

